sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Desafinado

Um músico, esmerado executante daqueles que enche salas de concertos e reproduz o sentimento de um compositor morto há séculos com uma vitalidade de levar a plateia às lágrimas, com os tempos e ritmos todos na cabeça e com as escalas todas organizadas, uma verdadeira máquina do tempo em que a única gravação sonora que havia era em papel pautado, vale cada cêntimo de todos os euros do ingresso no espectáculo.
Tal como excelso músico, sabemos que o melhor amigo é de confiança, está sempre disponível, como reage, o que pretende, o que gosta, que nos ouve em silêncio, que opina construtivamente, que nos mima, reconforta-nos a dizer o que queremos ouvir, vem quando mais precisamos, protege-nos quando fragilizados e incentiva-nos quando entusiasmados. É um valor seguro, um porto de abrigo a preservar.
De vez em quando aparece um músico com técnica apurada mas que toca uma nota que não estava lá, fora de tom ou num ritmo preguiçoso, diferente. O público desdenha, recusa, mas alguns das filas de trás percebem algo de novo e consistente. E assim cria-se um nome maior, daqueles que sucessivas gerações vão reproduzir com renovado esmero.
Na nossa vida às vezes também nos cruzamos com um desafinado, inesperado, chocante, desafiador, desconcertante. Se for inteligente pode criar paixão ou só chamar a atenção mas não nos deixa indiferentes. Não tira o lugar aos amigos mas a música nunca mais será a mesma.

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