sábado, 25 de agosto de 2012

No corredor dos congelados

"Em todos esse momentos, eu tentava calar com ruído o ruído que trazia dentro de mim, que me constituía.
...
Não é ruído. É um entrançado de mundos, uma mistura. É olhar para alguém e não conseguir evitar a lembrança de tudo o que conheço sobre essa pessoa e confrontar essas imagens, sobrepô-las. Eu vi Sidonie chorar. Podem passar mil anos, posso encontrar-me com ela no supermercado, duvido, que hei-de sempre convocar a imagem dos seus olhos lacrimejantes. Eu também vi a Sidonie ter um orgasmo, essa imagem também estará lá, ao mesmo tempo, no corredor dos congelados. E estará lá aquilo que me disse e que retive, o que contou sobre ela, o que pensei sobre ela."
José Luís Peixoto, "Livro", pág. 254

Sem comentários:

Enviar um comentário