- Ah?
- O comboio já deve ter ido. Ai, como eu ando com a minha cabeça. Não sei como vou fazer. Ai meu Deus, e agora?
- Ermesinde?
- Não sei como vou fazer. A minha mãe doente, se calhar precisa de mim. E eu perdida aqui. Se calhar vou de táxi. Sabe quanto custa o táxi, o táxi para Ermesinde?
- Táxi?
- Sim, o táxi. Ai, deve ser caro. Não sei como vai ser.
Ela continuou. A mãe doente, o táxi, o comboio, Ermesinde, a mãe outra vez. Ele não conseguia olhá-la de frente. Bem queria. O decote. Ganhou confiança. Pediu outro fino, rodou a cadeira
- Se alguém me levasse. Mas a esta hora... Só a mim.
Passados três finos, ele já a olhava nos olhos. Ganhava confiança. Enquanto lhe moldava as coxas já só pensava na forma de salvar este anjo que a providência pousara no seu caminho. Ia ouvindo. Por mais de uma vez pôs a mão no seu braço. Estava tudo sobre controlo.
- Está tanto frio lá fora. Se for para a paragem apanho uma gripe. Se alguém me desse uma boleia. Ainda assim não sei.
- Ora bem, há-de se arranjar qualquer coisa.
- Já são quase nove horas e eu ainda aqui.
- Nove horas?
Não deu pelas horas passarem. Lembrou-se de casa. Da mãe, da mulher, da filha, do jogo do Porto que devia estar a começar. Não necessariamente por esta ordem. Olhou para o telemóvel. Ninguém chamara. Se calhar nem repararam. Ninguém notou. Isso era lá longe.
- Antes era o Delfim que me levava. Mas agora... Sinto-me tão só.
- Quem?
- Era o meu namorado. Não quero falar disso.
Os olhos marejaram-se. Uma lágrima correu.
- Que se passa? Posso ajudar?
Já se sentia dono da situação. A sua mão já consolava a dela. Curvava-se sobre ela. Chegou-lhe o lenço. Mirava-lhe o colo. Voltou a sentir calor, agora não de timidez.
- Já não aguentava mais. Quando se zangava levantava-me a mão. Chegou a bater-me.
- Quê?
Pegou na mão dele e pousou-a nas costelas. Ele sentiu o elástico do sutiã. Sentiu calor.
- Deu-me um murro aqui. Ainda está dorido. Por aqui todo.
Passou-lhe a mão por uma zona mais larga. Ele sentiu na mão algo mais do que o elástico. Mais calor.
-Como é que foi capaz, o filho d..., disse ele com a voz sumida das emoções. A solidária e a táctil.
- És um querido.
Inesperadamente, ainda com a mão na mão e no lombo mais ou menos frontal, ela beijou-o, os lábios húmidos no canto da sua boca.
Explodiu.
(continua)
- O comboio já deve ter ido. Ai, como eu ando com a minha cabeça. Não sei como vou fazer. Ai meu Deus, e agora?
- Ermesinde?
- Não sei como vou fazer. A minha mãe doente, se calhar precisa de mim. E eu perdida aqui. Se calhar vou de táxi. Sabe quanto custa o táxi, o táxi para Ermesinde?
- Táxi?
- Sim, o táxi. Ai, deve ser caro. Não sei como vai ser.
Ela continuou. A mãe doente, o táxi, o comboio, Ermesinde, a mãe outra vez. Ele não conseguia olhá-la de frente. Bem queria. O decote. Ganhou confiança. Pediu outro fino, rodou a cadeira
- Se alguém me levasse. Mas a esta hora... Só a mim.
Passados três finos, ele já a olhava nos olhos. Ganhava confiança. Enquanto lhe moldava as coxas já só pensava na forma de salvar este anjo que a providência pousara no seu caminho. Ia ouvindo. Por mais de uma vez pôs a mão no seu braço. Estava tudo sobre controlo.
- Está tanto frio lá fora. Se for para a paragem apanho uma gripe. Se alguém me desse uma boleia. Ainda assim não sei.
- Ora bem, há-de se arranjar qualquer coisa.
- Já são quase nove horas e eu ainda aqui.
- Nove horas?
Não deu pelas horas passarem. Lembrou-se de casa. Da mãe, da mulher, da filha, do jogo do Porto que devia estar a começar. Não necessariamente por esta ordem. Olhou para o telemóvel. Ninguém chamara. Se calhar nem repararam. Ninguém notou. Isso era lá longe.
- Antes era o Delfim que me levava. Mas agora... Sinto-me tão só.
- Quem?
- Era o meu namorado. Não quero falar disso.
Os olhos marejaram-se. Uma lágrima correu.
- Que se passa? Posso ajudar?
Já se sentia dono da situação. A sua mão já consolava a dela. Curvava-se sobre ela. Chegou-lhe o lenço. Mirava-lhe o colo. Voltou a sentir calor, agora não de timidez.
- Já não aguentava mais. Quando se zangava levantava-me a mão. Chegou a bater-me.
- Quê?
Pegou na mão dele e pousou-a nas costelas. Ele sentiu o elástico do sutiã. Sentiu calor.
- Deu-me um murro aqui. Ainda está dorido. Por aqui todo.
Passou-lhe a mão por uma zona mais larga. Ele sentiu na mão algo mais do que o elástico. Mais calor.
-Como é que foi capaz, o filho d..., disse ele com a voz sumida das emoções. A solidária e a táctil.
- És um querido.
Inesperadamente, ainda com a mão na mão e no lombo mais ou menos frontal, ela beijou-o, os lábios húmidos no canto da sua boca.
Explodiu.
(continua)
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