Extracto do "Muito bons são eles", por Rita Barata Silvério:
"Este meu país não pára de me surpreender, de facto. Estas criaturas são filhas do Portugal dos últimos 20 anos, de uma classe média bêbada de Euros e auto-estradas grátis, idiotizada pela sensação de novo-riquismo à base de subsídios do que antes chamávamos a CEE, que se acreditou europeia e por tanto com direito a ter tudo novo. E teve. Os últimos carros, os últimos telemóveis, as últimas férias nos resorts, os últimos restaurantes da moda, a última mala da Carolina Herrera. Uma classe média que associou o ter para ser alguma coisa de jeito. Conheço malta cheia de MBA, bmw e iphones que passa férias de barco em Ibiza e bebe o melhor e mais caro vinho e que não diz nada de jeito, que não vai a um concerto se não é convidado por algum banco ou associação de advogados, gente que não pisa museus, só galerias de arte. Conheço directores gerais que não sabem o que significa a palavra “antologia”. Conheço professores que não têm livros nas estantes de casa, médicos que só viajam em cruzeiros, advogados que não sabem que foi D. João II. Estou a falar de uma classe média que não se importa de pagar balúrdios absurdos pela educação dos filhos, pagando-lhes aulas extra de piano, inglês, ténis e chinês mandarim mas que não têm a menor curiosidade em saber o que aprendem."
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