segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A má fé e a incompetência

"Enquanto Otelo discorre publicamente sobre golpes de Estado e não é levado a sério, outros dedicam-se a fazê-los, sob a apatia geral. Esta semana, a Europa foi palco de dois golpes de Estado comandados por Bruxelas – que hoje é uma palavra que funciona como um eufemismo para não ter de dizer “Alemanha”. A queda de Papandreou na Grécia e de Berlusconi na Itália foram dois efectivos golpes de Estado desencadeados a partir do centro europeu, ultrapassando as instâncias democráticas dos respectivos países.
Como escreveu o colunista do i Tiago Mota Saraiva, eu também queria festejar a queda de Berlusconi, mas assim não. Rir de Otelo Saraiva de Carvalho e apoiar os golpes de Estado de Merkel é um contra-senso pesado."

A minha opinião é ligeiramente diferente.
Papandreou, ao anunciar a convocação do referendo, assustou a Europa e principalmente a oposição grega. De tal maneira que esta se viu obrigada a sentar à mesa e discutir a implementação das medidas de austeridade e a formar um governo de unidade. Provavelmente o efeito foi involuntário, a medida não passava de calculismo eleitoral, mas calou a má-fé da oposição, acalmou os tumultos e abriu uma nesga de luz. Se resultar garante o seu lugar na história. Se não resultar, foi só o último acto duma peça com fim anunciado.
Em Itália o problema é outro. Chegou-se ao ponto de Berlusconi ser o mal menor, não por má-fé da oposição mas pela sua confrangedora incompetência. O povo não gosta dele mas também não acredita nos outros. A situação arrastou-se até começar a provocar o desvio de fundos dos bancos italianos, não só das famigeradas grandes fortunas mas também das poupanças da classe média, para lucro dos pequenos vizinhos da fronteira norte. Os gestores de fundos de investimento internacionais (como a modesta banca portuguesa) começaram a desconfiar da capacidade de cumprimento da dívida pública italiana, a partir daí os juros começam a subir. A diferença para a Grécia é que a Itália é um país rico, tem poupança interna e esta é detentora da grande parte da dívida pública. Se os governantes fizerem bem o seu papel e não intervierem demasiado na economia, há fundos mais do que suficientes para a coisa correr bem.
Em ambos os casos, eleições antecipadas não resolviam o problema, seja por rejeição, seja por desconfiança do eleitorado em relação às oposições. O empurrão veio de fora mas as soluções foram internas. Chamar-lhes golpes de Estado acho que é uma notícia exagerada.

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