O mundo a preto e branco

Os bons, os justos, os honestos, os trabalhadores, todos do mesmo lado oposto ao dos maus, injustos, desonestos e preguiçosos.
A causa-efeito sem rodeios. Se foi, tem de ser. O mundo como se fosse um gigantesco relógio ritmado com horas certas. A crença, mesmo que agnóstica, numa entidade celeste, cósmica, infinita, omnipresente, responsável pela nossa vida, pela nossa felicidade. Deus, Natureza, Civilização, Homem, Estado, Patrão, Chefe, Lisboa, Bruxelas, os Alemães, os Americanos, os Gajos.
Surpreende-me a facilidade com que se pensa que cumprindo com as obrigações, tudo o resto passa a ser um direito. Trabalhei toda a vida. Estudei 5 anos. Nunca dei uma falta. Se mais não fiz foi porque nunca me pediram. Puros e brancos como a cal.

Tudo o que somos, é feito todos os dias, com trabalho, esforço, cuidado, dedicação e muita, muita sorte, esse grande corante que tanto mancha como empalidece.

Às vezes o bom também levanta a mão para o filho, o justo também se ira, o honesto também se tenta e o trabalhador também se cansa.

O mundo claro avança no cinzento. Avança porque se pisa o cinzento, mas quando se escorrega todo o coro níveo se levanta, julgando que o branco é seu e é eterno.